domingo, 1 de maio de 2011

A arte do silencio


Marcel Marceau

Ainda nao me acostumei com esse novo teclado, ja nao conseguia usar todos os acentos corretamente, pelo  menos ele me poupa de alguns erros sempre cometidos. Eu sei que voce dira ser mais uma orquidea que roubei da sua colecao, mas essa, prometo,  farei florescer todos os dias.
Certa vez voce me disse que os sentimentos eram coisinhas estranhas dentro de nos, e ainda afirmou com grande satisfacao que so por que a gente sentia nao queria dizer que eles existiam. No entanto o mimico da esquina nao precisou de meias palavras para contradizer sua nova teoria.
A luz vermelha do farol indica o comeco de todas as existencias. O sentimento movimenta todo o mundo de apenas dois olhos. Logo na frente ele exerga um obstaculo que ninguem ve, move a cabeca de um lado para outro procurando alguma passagem, as maos calculam a altura, o corpo caminha e para  diversas vezes, ate que ele quebra aquilo que ninguem viu.
E todos os dias ele para no mesmo farol, esperando as mesmas reacoes e as mesmas poucas moedas, tudo isso para continuar afirmando que so e preciso sentir para existir. O preto e branco combinam com o romantismo que essa profissao emana , as poucas cores que sao necessarias para se montar um novo mundo. O muro que separa ilusao de sonho. A flor e a fragilidade da vida.
A oquidea continua na varanda, pegando pouco sol e chuva, as pessoas que passam na rua certamente nao conseguem ve-la, mas ela continua la, em algum lugar perto do para-peito... acho que nem mesmo voce, durante todos esses anos viu que a orquidea fora roubada da sua grande colecao de sentimentos. So por que te amo, nao quer dizer que seja verdade.

Livia Garcia

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Caraminholas

Para aniversariantes do dia passado.


Hoje acordo com seus inúmeros cachinhos acariciando levemente meus braços. Esse cabelo que herdou da mãe, por isso são tão parecidas. Sua mãe. Era mesmo a marca registrada, as caraminholas na cabeça. Embaraçados, bagunçados, mas sempre muito amados, foi assim que ela me passou uma paixão que acho que não conseguirei passar a você. Não conseguirei, porque o discurso dela era único econvincente, mesmo nas partes que ela se contradizia entre o frizz e o liso.
Uma tarde perguntei o que aqueles cabelos enrolados tinham para me contar, acho que foi aí que sua mãe decidiu se casar comigo, foi uma pergunta tão boba e sem preparo e que ela (anos depois me disse) achou decisiva para a nossa relação. Sua teoria continha muitas experiências importantes e cobaias as quais justificavam cada episódio e acontecimento.
O primeiro foi aquele amigo Fernando. Disse que era por causa do cabelo liso que ele era tão esquecido, ria baixinho quando ele repetia uma estória já contada, e sempre atribuía o esquecimento àquela cabeleira lisa que ele tanto se orgulhava." O cabelo liso é típico por não conter ideias exatas, quando estas são formadas elas logo escorrem e depois de passarem pelo pescoço é impossível recuperar". De imediato acreditei, seu amigo é tão esquecido! Mas daí perguntei da Ju, ela explicou que sim, os cabelos eram lisos mas de tão grandes era difícil que as ideias escorressem rapidamente. Achei que Ju era bem esperta.
Continuou me contando sobre o outro, Rafael:" tão inteligente! Cabelos enrolados você viu?". Explicou que o amigo tinha ideas ótimas, conseguia efetuá-las, no entanto usava apenas aqueles shampoos e cremes indevidos, que faziam os cabelos ainda mais rebeldes. Deu a dica ao Rafa: " Pare de usar lisos perfeitos, liso sem frizz, liso intenso, seu cabelo é black!" . Me disse depois que ele está progredindo com o problema do esquecimento. Falou também da Fabi, a japa da turma de experiências e disse que os olhos puxados prevalecem (e muito)sobre os cabelos lisos, senão só viríamos enrolados na med usp.
Entre outras coisas, sua mãe me ensinou a amá-la e amar ainda mais cabelos cacheados.Me ensinou também o que eram frizz, esses cabelinhos rebeldes, disse que eles são sintonizadores e que por isso a cada sinal de chuva começam a sintonizar, sintonizar até que captem a ideia que a chuva veio trazer....por isso pessoas cacheadas adoram a chuva apesar do estrago nos cachinhos. Ficam todos perdidos um nos outros.
Filha, você já é um pouquinho muito importante de sua mãe  por causa dos cachinhos.Agora pergunta pra Alice, aquela loirinha lisa da sua sala, qual a vantagem de ter cabelo liso...ela pode até responder, mas vai ser sem poesia...já disse...poucas são as pessoas privilegiadas com caraminholas na cabeça!

Lívia Garcia

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

De como aproveitar a praia

Depois de quase dez anos sem ver o mar, meu pai concordou  em colocar a barba de molho.
Entre milhares de três desejos do Bonfim
eu decidi ficar por ali, Marinando.


Mar

domingo, 6 de fevereiro de 2011

O final da estória

- E aí, tá gostando do livro?
- Mais ou menos...
- Que parte que você tá? Já chegou naquela que ela vai atrás do R....
- Ow! Eu tô no capítulo 2011, mas tá muito chato! No começo pensei que ia ser super legal o livro, tava super bonitinho tudo dando certo, agora a menina não tem nada pra contar!
- Mas falta muito pra você terminar o capítulo?
- Faltam  umas 325 páginas, eu acho.
- Eu nem lembro muito bem , mas ainda tem, nesse capítulo, alguns feriados ou coisa parecida que ela narra, nem é tão chato assim, mas às vezes falta paciência!
- Como você conseguiu ler tudo? E o colégio nem pediu, nem era obrigado!
- Nossa mas é super legal... Você tem que terminar pra gente comentar uma parte lá...nossa super louca, acontece um monte de coisa.... ai, não dá pra falar senão aí que fica chato.... Mas o livro é desse jeito começa legal depois fica super chato, depois fica legal, mas acho que esse é o último capítulo fraquinho, não tenho certeza...
- Hoje acho que nem termino essa parte chata então , porque já tá me dando sono...Quem te indicou esse trem?
- Ow você vai ver... fica falando que é ruim mas no final você vai amar! É surpreendente, você nem imagina o final, não dá nem pra deduzir. Acho que li até o fim por curiosidade.
- Essa é boa... vou ficar lendo um livro grosso desse só pra gostar do último capítulo? Acho que vou ... eu pulo uns trêis.... daí vou pro 2014...parece que tem copa aqui denovo...ai depois eu...eu
- Se você for ler assim vai perder um monte de parte importante, também porque você inventou de ler o livro se não tá gostando?
- Mas você falou tão bem, tão bem que eu pensei que era bom!
- É bom! Continua lendo que você vai ver....
-Tá, tá, tá bom, agora deixa eu terminar esse capítulo senão eu desisto mesmo!
-Ai ai, até parece que você nunca leu uma coisa ruim, fica por aí lendo só coisa de vampiro! Isso aí é uma estória real...
- Por isso é sem graça!
- Ai termina de ler logo, porque ...já passou a parte que ela tira z..
- Tá tchau!
-Nossa! E aquela que ela esqueçe de.al...
-....
-Ainda não? Tem aquela outra...
-....
- Tá bom, já entendi!



Lívia Garcia

domingo, 30 de janeiro de 2011

Deixando escapar segredos

Querida,
Já é final de julho, e os campos de lavanda florescem. Comprei cortinas de renda de seu agrado, porque elas dançam entre o sol quando têm vontade. "O mar Mediterrâneo é quase ali", escutei algum dia. A colheita começará em agosto. Elas não murcham diante dos olhos, vão embora simplesmente. Como eu fui. Todos os campos são recolhidos para aromas, sei que não te interessa a dinâmica das flores, a verdade é que tenho andado sentimental. Dias atrás roubei uma flor para vê-la sofrer com o tempo. Não tive coragem, joguei-a por aí, como um canção esquecida, andando alheia. Aquela canção que não cantamos mais. Comprei aqui perto uma vitrola e uma bicicleta, pena não ter discos. Em que ano estamos? É o tempo de cada um.
Aprendi a gostar de frutas cristalizadas, é o que mais vendem por aqui. Os damascos são estranhamente charmosos e combinam com as cortinas da sala. Penso em você, mas não acordo sozinho. O aroma dos campos conversa com toda  Provença, sei que ele espia nossas casas e inveja a vitrola que tenho. A chuva não visita a cidade e as montanhas são vistas de longe, os quadros de Cézanne foram feitos aqui. Por isso vim. Assim é mais fácil, não volto. Comprei ervas das colinas, talvez acrescente em algum prato. Aqui se cheira ao apreciar , é a terra dos aromas. Confesso que já esqueci o seu. Mas não se encabule, a distância tem dessas coisas. Abaixo mando abraços com ares de hortelã, porque os campos roxos são efêmeros.



Mar

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Correspondência

Nesse tempo de cigarras e cantos secos
pai disse:
Nenhuma força conseguirá deter a madrugada
O sol quer nascer nesses dias de chuviscos.
Me conte sobre você, querido amigo.




Mar

domingo, 24 de outubro de 2010

O menino maluquinho cresceu...

O menino maluquinho está fazendo 30 anos hoje.

"O menino maluqinho não consegui segurar o Tempo!
E aí o tempo passou.
E, como todo mundo o menino maluquinho cresceu.
Cresceu e virou um cara legal. Alíás, virou o cara mais legal do mundo!
E foi aí que todo mundo descobriu que ele não tiha sido um menino maluquinho, ele tinha sido era um menino Feliz!"
                                                                                                                 (Ziraldo)